Foto documentário.
Piedade. A Praça. Um lar!
Praça da Piedade, cinco e meia da manhã de sábado, 19 de abril, a cidade ainda dorme! Nos bancos frios, dormem também, moradores de rua, enrolados em jornais ou papelão. Uns já há muito por ali vivem. Como o senhor Ari, 49 anos, que, desde os 10, é mais um entre os habitadores do local.
E a palavra “piedade” não cessa. A praça clama piedade! Está aflita, coitada! Desolada de qualquer providencia que poderia ter. Além de notá-la, nas tardes de sol, pessoas que fazem parte deste mesmo sistema social e convivem com a luz da praça, jazem indiferentes àqueles que hoje já são parte da praça, porque nela vivem. Uns nela trabalham, outros descansam por ali, e nem imaginam que na madrugada sombria, outro cenário se descortina. É a Praça, morada de desabrigados, sem teto, sem lar. Companheiros da solidão.
Senhor Ari, em um breve bate papo, narrou um pouco de sua vida, que, apesar de aparentar embriagado, combustível em que quase sempre enfrenta a noite, mostrou-se conhecedor lúcido de sua realidade. Nascido em Maragogipe, saiu de casa aos dez anos, perambulou por algumas cidades do interior da Bahia, até parar em Salvador, se abrigar na Praça Piedade, e desde então não sair mais de dela. No começo afirma que cometeu pequenos delitos, mas as grades das cadeias logo o intimidaram a não roubar mais. Ari vive da ajuda de pessoas que há muito contribuem para sua sobrevivência. Já comeu restos do chão, dos lixos e o que pede aos transeuntes da Praça. Recebe doações de roupas de generosos que já o conhecem há tempos, e as guarda debaixo da banca de jornal ao lado da Praça.
Outro que faz companhia a Ari é Tiago Santos, 24, que ha cinco anos mora na Praça. Tiago estudou até o 1º ano do segundo grau, sua família mora no bairro de São Caetano, Salvador. Uma discussão com a mãe o levou a sair de casa. Diz Tiago, que busca emprego, mas sem sucesso. “Quem vai querer dar emprego a um morador de rua”, reclama.
D. Maria José, 64 anos, mora em Sussuarana, mas já dormiu muitas noites na Praça, antes de ganhar, de uma igreja, madeirites para construir um barraco em uma invasão. Mas ainda retira o sustento na praça, pedindo a um e a outro, que sempre colabora com ela.
Essa é a vida da Praça, que é local de descanso nas tardes de sol, mas de trabalho para outros e, à noite, nela recolhem-se para se abrigarem, os moradores de rua.
Texto/imagens: Mauro Rodrigues
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